Resenha: The Sound of Perseverance - Death (1998)

No dia 13 de dezembro de 2020 completaram-se exatos 19 anos da partida do grande Chuck Schuldiner, mais conhecido como o guitarrista, vocalista, letrista e a alma de uma das bandas mais importantes que já pisaram sobre a Terra, o Death. E, nesta mesma data, fui convidado pelo grande Harley do Underground Extremo a falar a respeito deste gênio da música e sua curta, porém, excelente carreira.  



Sei que a discografia do Death não possuí álbuns ruins, entretanto, para o papo, precisei escolher um dentre os sete petardos para que pudéssemos dissecá-lo. Optei então pelo trabalho que me inseriu neste universo incrível de riffs, peso e até mesmo filosofia criado por Schuldiner e companhia, o The Sound of Perseverance, de 1998. O meu primeiro contato com a banda ocorreu em meados de 2017, quando fazia aulas de contra-baixo com o Garça (o baixista da Sacramentia). O sádico professor sugeriu-me para que tirasse um pequeno, (porém muito complexo para um iniciante) trecho da música Flesh And Power it Holds. E mesmo depois de ter debandado o instrumento, vira e mexe me pego tocando este mesmo trecho nas vezes que pego o meu velho violão.


Fora este episódio, posso dizer com toda certeza que o estilo de cantar de Chuck neste trabalho, tão singular se compararmos com os anteriores, me ajudou a compor boa parte do meu estilo de cantar dentro da minha própria banda, a Sacramentia. E pensar que muitos torcem o nariz para o álbum, alegando que a voz soa fraca...


É engraçado parar para pensar e perceber que o lançamento deste trabalho surgiu como uma espécie de moeda de troca entre Schuldiner e a nova  gravadora com quem trabalhava na época, a Nuclear Blast. Tudo começou com o final da turnê de divulgação do álbum Symbolic, lançado em 1995. Cansado do descaso das gravadoras pelas quais passou que parecia não darem o devido valor ao trabalho do Death, sempre destinando as menores verbas para tiragens e divulgações da banda, Chuck decidiu encerrar momentaneamente as atividades com seu projeto principal para se dedicar a uma nova empreitada.  


O guitarrista nutria há tempos um desejo de formular uma nova banda, com uma sonoridade voltada ao Heavy Metal tradicional, um projeto em que atuasse apenas como instrumentista deixando os vocais para grandes vocalistas, cogitando nomes como Rob Halford ou mesmo Ronnie James Dio.


Digamos que essa ideia utópica tomou rumos bem diferentes do que o planejado, mas a nova banda de Chuck Schuldiner começava a se formar. Era o início do Control Denied



Com as primeiras demos em mãos, o músico, agora independente, buscava uma nova gravadora que pudesse apoiar e financiá-lo nesta nova empreitada. E essa oportunidade não demorou a aparecer quando a filial americana da gravadora alemã Nuclear Blast (naquela época um gigante em gradativa ascensão) decidiu fechar um acordo para o a gravação e futuro lançamento de The Fragile Art of Existence o primeiro e único registro da nova banda. Entretanto, a gravadora pedia apenas uma “pequena” coisa antes da luz verde ser dada ao Control Denied. Um novo álbum para o Death.


Schuldiner, aos olhos da mídia e até mesmo perante alguns ex-colegas de banda, era tido como uma pessoa prepotente e inflexível. E de fato, o músico tinha aversão a qualquer tentativa de elementos mais comerciáveis em sua música. Fora isso, era um perfeccionista nato e a busca pela evolução, aprimoramento em cada trabalho que se seguia, era constante que, sem sombra de dúvidas, resultaram em uma obra discográfica tão única nesta tão vasta cena do Heavy Metal mundial. Essa seria a única vez que Chuck cedeu, mesmo que minimamente, à indústria musical. E que bom que isso aconteceu!  



The Sound Of Perseverance foi lançado no dia 31 de agosto de 1998, com produção de Jim Morris e Schuldiner gravado em Tampa, na Flórida, no Morrisound Studio. Completando mais esta encarnação do Death estavam os músicos Shannon Hamm dividindo as guitarras e Richard Christy na bateria, ambos também participantes do Control Denied. Para o contrabaixo, Steve DioGiorgio era uma decisão unânime. Entretanto, ele não poderia excursionar com a banda por conflitos de agenda em outros projetos, e Chuck desejava realizar a turnê do novo trabalho com a mesma formação que o gravou. As quatro cordas então, foram assumidas magistralmente por Scott Clendenin.  



As sessões de gravação do álbum foram as mais rápidas da carreira do Death segundo Morris, uma vez que a verba continuava curta mesmo após a mudança de gravadora. Este também seria o álbum mais longo dentro da discografia do grupo, com seus 56 minutos. Seis minutos a mais que o antecessor Symbolic


O logotipo da banda também sofreu alterações, removendo o esqueleto encapuzado sobre a letra H, trazendo uma sensação de amadurecimento, mas que, ao mesmo tempo, remete às primeiras versões criadas quando o primeiro nome para o grupo (Mantas) fora deixado de lado.  Já a capa foi desenvolvida por Travis Smith, artista que já trabalhou com bandas como Iced Earth, Nevermore e Overkill. Chuck afirmava que o conceito da ilustração, é uma analogia para a escalada que cada indivíduo enfrenta para alcançar seus objetivos. 



A obra sequencia a pegada progressiva do Death, iniciada a partir do álbum Human (1991). Já o teor lírico das letras, traz uma veia filosófica que começou a se desenvolver a partir do Leprosy (1988) em composições como Pull The Plug, que se intensificaram ao decorrer da carreira do grupo. Há ainda indícios de que alguns trechos ou mesmo músicas completas presentes no álbum fossem sobras de composições feitas para o Control Denied


The Sound Of Perseverance extraiu a máxima de cada membro da banda, sendo um trabalho muito técnico, porém, sem soar piegas ou mesmo desnecessário, como metade da discografia de grupos como o Dream Theater. O som extraído aqui consegue mesclar perfeitamente este aprimoramento musical com melodias tocantes e épicas. Por isso, muitos admiradores da obra do Death (e me incluo neste grupo) consideram TSOP como o melhor trabalho já lançado pela banda.  


Na época do lançamento críticas à produção foram feitas, algo que é realmente plausível se considerarmos o som cristalino do Symbolic. Já a voz de Chuck foi outro fator que de primeira afastou os fãs de longa data, que afirmavam que a gutural voz de outros tempos soava distante dos tempos áureos (pura balela!). 


Ao término de mais uma audição, enquanto escrevia esta resenha, minha opinião sobre o álbum apenas se intensificou, e o considero um álbum lindíssimo dentro da discografia de uma banda tão extrema quanto foi o Death. Pensando bem, é uma das obras mais lindas dentro da história do Heavy Metal. E realmente fica difícil tentar emular como esse grupo soaria depois deste trabalho. E creio que seja desnecessária esta indagação.


Creio que o próprio Chuck tinha planos muito maiores já traçados para o Control Denied. Inclusive o músico chegou a gravar parte de um segundo material para essa nova banda, que inclusive já havia sido batizado, o When Man and Machines Collide. Infelizmente com a morte do guitarrista em 2001 em decorrência de um tumor no cérebro, este álbum não foi concluído. Há alguns relatos de que as partes de Schuldiner foram completadas e bastaria apenas os demais integrantes gravarem suas respectivas partes. Bom mas esta já é outra história...



Este é apenas um minúsculo capítulo na história deste grande grupo chamado Death. E este texto foi uma singela homenagem a este grande gênio chamado Chuck Schuldiner.


E se você quer saber mais sobre essa incrível história desde o início, a editora Estética Torta (já adianto que não estou ganhando um puto com isso) está trazendo pela segunda vez no mercado, a biografia Death By Metal: A História de Chuck Schuldiner e do Death, escrita pelo jornalista italiano Rino Gissi. O livro fez um sucesso estrondoso de vendas durante a primeira tiragem. Serei bonzinho e deixarei o link abaixo para que você possa correr e garantir a sua cópia. 


Comece desbravando o The Sound Of Perseverance. Você comprovará cada linha deste texto, e a vontade de se aprofundar na discografia do Death será quase que instantânea! 



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